Secção de Aeromodelismo

História

Antes de 1980, data da fundação do Aeroclube da Madeira, o aeromodelismo era uma actividade lazer ou extracurricular nas escolas. Até ao 25 Abril de 1974, era promovida a nível do Continente, como a maioria dos desportos, pela Mocidade Portuguesa, regulado e reconhecido pelas próprias entidades aeronáuticas. Segundo testemunhos de alguns deste entusiastas, na Madeira, há memória, desde a última década de 50, de algumas pessoas, entre eles Adalberto Jardim e Gomes Pereira que dedicaram algum tempo a uns motores de avião que adquiriram em Lisboa e no estrangeiro, com a ideia de montar um rádio controle experimental num aeromodelo. Mais tarde, talvez pelos meados da década de 60, outro grupo de entusiastas em que se incluía Janica Clemente que tinha feito um curso de iniciação no continente, António Pereira e mais alguns amigos praticaram esta modalidade, fazendo mesmo algumas demonstrações no Estádio dos Barreiros com equipamentos adquiridos possivelmente em Lisboa, nas lojas que vendiam brinquedos mais técnicos como a "Rosairinha ou a "Quermesse de Paris. Fruto deste entusiasmo começou a haver algumas empresas a comercializar, material para aeromodelismo na Madeira, das quais ainda recordo o "Rádio Stand", o "Bebé Feliz", "Armazéns Lojas" e a Casa Paté, na sua maioria já inexistentes, onde ainda na década de 70 adquiri muito material. Foi por esta altura que o saudoso Prof. Celso Quental, depois de fazer formação em Lisboa, inicia cursos de aeromodelismo na antiga Escola Industrial, integrados nas actividades escolares extracurriculares. Esta foi a chama manteve o aeromodelismo até hoje. Daqui nasceram modelistas, tais como o Manuel Gonzaga que junto com o Prof. Celso, foram relevantes no início do Aeroclube da Madeira (ACM) e para a prática desta modalidade.

Durante o ano de 1980 foi promovido oficialmente pelo ACM o 1º curso de aeromodelismo de voo circular, comandado por cabos, que funcionou em instalações cedidas pelo Ateneu Comercial do Funchal, donde saíram alguns praticantes, tais como os irmãos Sirgado, a Manuela Perestrelo, entre outros, que garantiram a continuidade do então projecto no ACM, culminando, em Janeiro de 1981, com a 1ª exposição denominada "Aeromodelismo e Aviominiatura" nas instalações do Club Sports Madeira. A partir desta data, esta modalidade conheceu um novo incremento, com prática regular e organizada de acordo com as normas federativas, sendo promovidos contactos com praticantes nacionais que ajudaram muito na nossa evolução técnica, tendo mesmo sido criado o 1º espaço próprio para o aeromodelismo no Montado do Pereiro que ainda lá existe mas com muitas limitações para o voo devido aos obstáculos circundantes que foram entretanto surgindo.

Com a inauguração da sede do ACM em Abril de 1984, na rua do Castanheiro, iniciou-se um novo ciclo. Realizou-se a 2º exposição que demonstrou claramente o desenvolvimento atingido, inclusive nas vertentes de modelos planadores, aviões a motor e helicópteros comandados por rádio (R/C). Nestas instalações, foi criado uma oficina de aeromodelismo que até hoje tem permitido a realização de cursos de construção de modelos para várias gerações de jovens e menos jovens, servindo também para o de apoio à prática desportiva.

No fim dos anos 80 e durante a década de 90 a prática do aeromodelismo R/C foi aumentando, também ajudado por empresas tais como a Electro D.João, a Digitécnica, os irmãos Martins e o Rui Afonso que comercializavam na região equipamentos e materiais cada vez mais evoluídos. Nesta fase ao descobrir-se o "Paraíso" que o Porto Santo é para os planadores, e com o apoio oficial dado para as deslocações de treino e encontros, fez com que o número de praticantes aumentasse consideravelmente nesta modalidade.

A inexistência de um espaço fixo com condições ideais para a aprendizagem de voo, aperfeiçoamento e competições oficiais não facilita a dinamização do aeromodelismo na ilha da Madeira. A orografia e o micro clima da ilha obrigam os praticantes a fazerem grandes percursos para onde se conjuguem as condições aceitáveis. Para os aeromodelos a motor, efectuam-se normalmente treinos no Arieiro, Chão da Lagoa, Paul da Serra, Caniçal, onde as condições físicas do terreno, por vezes, precisam de ser ligeiramente adaptadas ou existirem necessidade de autorizações que implicam a boa vontade das entidades que os tutelam. No caso dos planadores, onde o "paraíso" é o Porto Santo, embora já tenham sido feitas diversas experiências em muitos lugares da Madeira, tais como no Porto da Cruz e em zonas entre o Poiso e o Santo da Serra, o lugar de eleição ainda continua a ser o Pico da Cruz, em S. Martinho. Para o voo circular (comandado por cabos), embora sendo uma variante federada de competição nacional e internacional nas modalidades de acrobacia, combate e velocidade, como tal ideal desde a iniciação, com baixos custos, até à alta competição, e que infelizmente não tem grande adesão na nossa região, pode ser praticado na pista do Montado do Pereiro ou em qualquer outro campo com um raio mínimo de 20 metros, o que existe em muitas escolas. Por este facto é uma variante ideal para a integração da modalidade nas actividades escolares extracurriculares ou mesmo como modalidade desportiva. Não obstante dos contactos efectuados e algumas demonstrações, as tentativas não têm sido profícuas pelo que este assunto deve ser motivo de reflexão. Vejamos: os custos do material para a construção dos modelos mais simples poderão ser equivalente a qualquer outro equipamento individual para outra actividade, podendo os motores e outros equipamentos logísticos serem partilhados conforme os orçamentos e recursos disponíveis. A formação dos professores ou monitores que orientassem esta actividade nas escolas poderia ser efectuada através de protocolos com Aeroclube da Madeira bem como algum apoio logístico e de materiais. Considerando que seria um bom investimento perante os benefícios para os nossos jovens porque para além da ocupação saudável de tempos livres, seria um veículo de desenvolvimento de competências pessoais a todos os níveis, desafio aqui os responsáveis que tutelam os diversos organismos escolares a considerarem seriamente a criação de alguns núcleos desta modalidade pelas escolas da região. Um exemplo a seguir é o que foi feito no Porto Santo pela iniciativa do Prof. Fernando Caroto que aproveitando o apoio do Aeroclube da Madeira, clube que também ajudou a fundar, criou o Núcleo de Aeromodelismo da escola B+S daquela ilha.

Podendo ser um desporto para todas as idades, lembro a outros responsáveis para a pertinência da introdução da prática do aeromodelismo, como oferta de actividades de lazer, em associações ou organismos de carácter social e profissional.

O aeromodelismo é também utilizado para fins militares, nomeadamente para treino de fogo com armas antiaéreas, o que acontece nesta região desde os finais da década de 80, em que frequentemente, o aeroclube disponibiliza pilotos e "aeromodelos alvos" para colaborar em fogos reais ou demonstrações de proficiência militar.

A nível do desporto federado, considero haver um bom trabalho por parte dos responsáveis do aeroclube, perante as nossas condições. Este ano federaram-se aproximadamente 26 praticantes, exigência para competir em provas desportivas, e estarem cobertos por um seguro incluído na licença desportiva passada pela Federação Portuguesa de Aeromodelismo.

A nível de competição, não obstante dos encontros regulares que acontecem na Madeira e no Porto Santo, ao exemplo do previsto para este fim de semana com asas planadoras Zagis, considero que se poderiam corrigir algumas arestas e atitudes teimosas que permitiria fazer mais e melhor, bem como a organização de campeonatos regionais com o rigoroso cumprimento dos regulamentos federativos e da competição regional em vigor, tendo em vista uma maior igualdade de possibilidades em competições nacionais. Mesmo assim, é de louvar as nossas representações que recentemente obtiveram um título nacional numa variante difícil e muito técnica como a dos helicópteros rádio comandados.